conversando com irene

terça-feira, 28 de junho de 2011

UM CONTO QUASE DE FADAS

Ela amanheceu com um raio de sol no olhar, um sorriso novo no rosto e um jeito de quem havia sonhado um sonho de felicidade e magia, enfim, estava radiante...
Ele acordou atrasado, fechou o jeans que amanhecera em seu corpo, calçou meias e tênis. Correu ao minúsculo banheiro, na pia lavou o rosto enquanto com as mãos molhadas ajeitava os cabelos. Saiu apressado abotoando a camisa que apanhara no chão junto com o recorte de jornal de anúncio de empregos, correndo entre os becos estreitados pelos barracos da favela onde morava.
Ambos estavam à procura de algo importante e significativo para suas vidas, e a vida os faria encontrar, talvez nesse dia de busca...
Numa dessas coincidências do destino, ela voltava da livraria onde fora comprar alguns livros de poesias, ele ia à busca de seu primeiro emprego e,... caminhando eles se esbarram e os livros dela caem espalhando-se no chão, juntamente com a bolsa que trazia pendurada ao ombro. Eles se abaixam para apanhar e nesse instante os olhos se encontram, suas mãos se tocam e uma estranha sensação nascia nesse mágico momento.
Ele se desculpa, ela sorri e agradece. Ele acaba de juntar os livros (Cecília Meireles, Florbela Espanca, Murilo Mendes, Fernando Pessoa, Nina Costa,...) desconcertado, os devolve a ela. Ela agora, caminha com os cabelos voando ao vento, e voltando o rosto para vê-lo mais um pouco e dar-lhe mais um sorriso e, em seguida, desaparece no meio da multidão...
Ele continua ali, parado, com o recorte de jornal na mão olhando-a sumir no vazio, com a impressão de que o destino havia lhe preparado uma armadilha e ele caíra.
Volta-se para seu objetivo do dia, - arrumar seu primeiro emprego-, mas antes de continuar sua jornada, observa que no chão havia ficado um livrinho cor de rosa, com uma caneta atada a ele e na capa, as iniciais L. C., em letras ornamentadas.
Abriu e leu:

“Meu Diário, 03 de maio de 2008.
Este diário pertence à Laura Clarence, 15 anos, sonhadora, amiga, apaixonada pela vida. Filha de Judith Clarence e Marcos Angelos Clarence Junior nascida em 20 de junho de 1993. Tipo sanguíneo: A positivo; touro com ascendente em leão; galo no horóscopo chinês. Hobby é ler e escrever poemas; comida favorita é lasanha sorvete; grande sonho: viver um grande amor...”

Ele virou a página e viu a foto de uma linda menina de 15 anos vestida de debutante, fixada com clipes coloridos e os dizeres abaixo da foto escritos:

“Esta foto captou minha imagem por um instante ,... mas minha essência está livre, pelo jardim, e corre descalça sobre a relva, solta ao vento, flutuando na felicidade de meus 15 anos...
Eu transcendo essa imagem que sua retina observa e tenta capturar... Se quiser deter-me, segure o vento ... estarei nele...”

Ele guarda no bolso de sua calça jeans aquele livrinho e segue seu rumo. Depois desse dia, seguem-se muitos outros dias em que ele sai à busca de emprego, mas religiosamente passa naquele lugar, na esperança de reencontrar aquela menina e devolver seu diário... Mas não só isso, vê-la novamente, e tentar capturá-la no vento, quem sabe... Laura Clarence, Lauuuraa... Lauuuuraaaa... não conseguia esquecê-la.
Depois de muitas buscas, ele consegue emprego de boy numa agencia de detetives particulares, e desempenha muito bem seu trabalho. Mas faz cursos noturnos e acaba se especializando em investigações e em três anos se torna investigador da agencia, muito bom por sinal, apesar de seus apenas 21 anos.
Tinha agora uma sala só sua com uma plaquinha na porta com seu nome escrito, uma mesa com sua fotografia, alguns objetos pessoais que faziam o ambiente ser mais seu. Dentro de sua gaveta, alguns papéis, bloquinhos para anotar, canetas e um livrinho cor de rosa, que de vez em quando ele retirava e lia alguma página e ficava imaginativo, olhando para o vazio, buscando a imagem daquele rostinho de 15 anos olhando para trás e sorrindo, aqueles cabelos voando ao vento, aquela doce figura...
O chefe entra e diz:
--- Desce das nuvens rapaz, tenho um trabalho para você. Um cliente muito importante ligou e quer que vá neste endereço agora pela manhã. O casal precisa encontrar uma pessoa, e todos estão ocupados. Então, você está determinado para esse serviço. É só você se identificar na recepção do hotel, que estarão esperando. Seja discreto. Deste trabalho depende sua promoção.
--- Sim chefe, serei! Vou agora mesmo!
E sai animado com esse primeiro grande trabalho de investigação que lhe fora confiado. Chega ao Hotel PLAZA, se anuncia na recepção e, depois do telefonema, alguém o manda subir até a suíte nobre. Aperta a campainha e um casal o atende. A jovem senhora, gentilmente oferece um chá, o esposo pergunta se não seria melhor um drinque. Mas Cristiano não aceita nada, está ansioso por começar logo seu trabalho.
O homem fala:
--- Você é muito jovem, será que vai conseguir resolver o que precisamos?
Ele responde:
--- Senhor, minha profissão é esta, me preparei para isso! Não falharei...
Então o casal expõem o que os aflige e o que desejam:
--- Perdemos algo muito valioso para nós, e precisamos encontrar... disso depende a saúde, a sanidade de nossa filha... já gastamos muito com investigadores e não conseguimos nada, mas seremos generosos com quem conseguir encontrar esse objeto de valor inestimável... Será que você realmente é capaz de conseguir isso, meu jovem?
--- Sim. Pode descrever esse objeto para mim, senhor? É de ouro? É uma jóia?
--- Não é de ouro, é de papel,...mas vale como uma jóia...
--- É algum documento antigo: escritura, manuscrito, mapa, pergaminho,...?
--- É manuscrito, mas não é antigo.
--- É de um vulto histórico, de algum museu, de alguém importante?
--- É um livro que faz parte da nossa vida, um diário.
Ele para e reluta em perguntar como é esse diário, mas precisava ser profissional:
--- Como é esse diário, senhor?
--- É um livrinho pequeno cor de rosa, com uma caneta atada a ele, as iniciais L. C. na capa. Foi perdido numa praça perto de uma livraria neste endereço. A pessoa que perdeu é nossa filha e desde este dia, ela não foi mais a mesma... perdeu a alegria de viver, este diário é muito importante para ela e para nós. Qualquer vestígio, qualquer coisa, uma mínima informação que você nos trouxer, meu jovem, ser-lhe-á muito bem recompensada.
Essas últimas informações fizeram-no ficar surpreso, atônito, - seria ela? seria uma brincadeira maldosa do destino? -, uma angústia cresceu dentro dele que, com voz atropelada, perguntou:
--- Onde está sua jovem filha, dona do diário?
O Casal, triste, respondeu:
--- Nossa filha, desde que perdeu este diário, perdeu também a alegria de viver, voltamos para a Europa, buscamos tratamentos diversos para trazer a alegria de viver de volta a ela, mas nada funcionou. Não sabemos mais o que fazer... Resolva isso, meu jovem, e será muito bem recompensado. Lhe garantimos...
Depois desse diálogo, ele vai embora sem saber o que fazer. Retorna ao escritório, a sua sala, a sua mesa, a sua cadeira, ao diário guardado na gaveta... então decide simplesmente devolvê-lo e esquecer aquele sentimento que trazia dentro de si por 3 anos... era um sentimento agora mais impossível que nunca, ela era uma jovem rica e ele não era ninguém... Pega o diário, coloca-o dentro de sua pasta e vai para casa, decidido a entregá-lo aos pais de Laura. Foi uma longa noite aquela, Cristiano não conseguiu dormir... acordou, se arrumou, pegou a pasta, desceu os becos estreitos da favela onde morava com sua mãe dizendo: ‘Vai cum Deus meu filho!!!‘
Pegou dois ônibus até chegar no centro, caminhou devagar até chegar em frente ao hotel PLAZA, entrou e se anunciou na recepção, subiu até a suíte onde estava o casal hospedado, apertou a campainha da suíte e foi atendido por eles que o esperavam ansiosos. Cristiano tira da pasta o diário de Laura e pergunta:
--- Por acaso é este o livrinho cor de rosa que vocês tanto procuram?
Maravilhados e radiantes de felicidade, eles, entre lágrimas e risos, respondem:
--- Sim!!! Como achou? Somos muito agradecidos, meu jovem!!!... Peça o que quiser!... Diga!...
Ele responde:
--- Não é nada... diz e sai correndo para que o casal não veja sua perturbação. Vai para o escritório e pede demissão.
Marcos e Judith exultando de felicidade interfonam para a recepção pedindo um taxi e vão para a clínica onde a filha se encontra, chegando lá, mostram-lhe o diário. Uma fagulha de luz se acende nos olhos da jovem e um sorriso ilumina seu rosto... ela estava de volta daquele estado de inércia e catatonismo que a depressão a deixara. E dia após dia Laura recobrava a felicidade e recuperava o desejo pela vida. Três meses depois, ela estava completamente bem e desejosa por encontrar aquele que devolveu seu diário.
Os pais a levam na agencia de detetives particulares para ‘conhecer’ seu bem feitor, e ela está visivelmente radiante de felicidade e uma expectativa enorme por esse encontro, mas quando chegam, descobrem que ele não trabalhava mais lá e Laura cai em pranto, e nesse momento os pais descobrem que o mais importante não era o diário, mas o motivo de sua súbita cura, era aquele jovem... a menina declara aos pais seu secreto amor e, eles, querendo ver a filha bem, aceitam sem nenhuma objeção...
Então, no escritório, lhes é fornecido o endereço de Cristiano, e eles partem a sua busca. Sobem os estreito becos entre os barracos da favela onde ele morava. Chegam, depois de muito procurarem, em um pequeno e humilde barraco onde uma senhora estava lavando roupa na bica em frente a porta escancarada.
Eles perguntam:
--- É aqui que mora Cristiano Onofre da Silva?
A velha e sofrida mulher responde:
--- Sim, senhor. Ele fez alguma coisa errada, Dr.?
Eles perguntam onde está o rapaz e quando a mulher fala que o filho está lá dentro, Laura sai correndo para vê-lo. Eles se encontram frente à frente e parece que o tempo para, eles se olham, o mesmo olhar; as mãos se tocam, as mesmas sensações; eles se abraçam, uma revolução acontece naquele momento; sem palavra se beijam, em um beijo profundamente desejado e esperado por três anos e parece que a favela toda pára e festeja o amor de Laura e Cristiano, o Rio de Janeiro todo está em festa, o mundo..., porque ali se concretizou o amor dos dois... em um conto quase de fadas...

(Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa, 28/07/2011)Nina Costa
Publicado no Recanto das Letras em 28/06/2011
Código do texto: T3063115

A DOR

A dor é algo
intangível
invisível
intocável,
mas real
e indecifrável...
Atinge diretamente
as forças da gente
a mente
o coração...
Quebra qualquer vontade
todos os desejos
todos medos...
Martiriza a existencia
a decencia
a compostura...
A dor é uma mistura
de desespero
de desapego
sofrimento
e aversão...
É uma víbora que se arrasta
em minha mente
e crava os dentes
nas entranhas da alma...
A dor, eu a conheço intimamente
mas não a quero não...
(Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa, 28/06/2011)
Publicado no Recanto das Letras em 28/06/2011
Código do texto: T3062714

sexta-feira, 24 de junho de 2011

INQUIETUDE

Amor, quando a inquietude de tua ausência invadir-me a alma
E saudade torturar meu ser
Hei de, então, buscar-te em meu pensamento
E por um instante reviver
Aqueles bons momentos de sorriso solto
As nossas brincadeiras, as loucas sensações
E quando essa inquietude amargar-me a boca
E em meio a sussurros balbuciar teu nome
Talvez eu telefone ou mande bilhete
Ou ainda te passe um e-mail, pra lembrar quem sou
Dizendo que te amo! Sem ti não sei viver!
Mas se eu esperar um pouco o peito se aquieta
E a alma de poeta volta a sofrer
E assim o pensamento em versos
Transcreve na poesia a falta de te ter.

(Irene Cristina dos Santos Costa, Nina Costa, 24/06/2011)

Publicado no Recanto das Letras em 24/06/2011
Código do texto: T3055210

ESCULTURA NUA

Assim como se encontra em submerso
Na bruta matéria, a nua escultura
Em minha veia estão meus versos
Que o labor das mãos entalha e procura.

Do fundo marmóreo o escultor traduz
A imagem do etéreo em forma e luz
Maciço é meu verso, minha poesia
Onde elaboro o sonho que extasia.

O escultor fere a matéria inerte
E traz à superfície linda e nua
Ao olhar infame o prazer de ver-te

Eu, a esculpir versos feitos de lua
Que sensações transforma e converte
Nenhum prazer maior deles se exclua.
(Irene Cristina dos Santos Costa – Nina Costa, 21/06/2011)

Publicado no Recanto das Letras em 24/06/2011
Código do texto: T3054850
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terça-feira, 21 de junho de 2011

A MULHER QUE HABITA EM MIM

A mulher que habita em mim
Quer ser muito amada
Passear de mãos dadas
Namorar escondido do pai, no portão
Ganhar flores do campo
E bombom serenata de amor.
Ela quer brincar de primavera
E de "pera, uva, maçã, salada mista"
Quer o brilho nos olhos
O coração em descompasso
O tímido abraço
O friozinho na barriga
E o arrepio na pele...

A mulher que habita em mim
Quer o rubor na face
O olhar em disfarce
O temporal de emoções.
Ela quer o flerte
Durante a valsa de debutante
O amor incosntante
E muito febril.
Essa mulher deseja
Profundamente
O amor adolescente
Que nunca esqueceu...

(Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa, 21/06/2011)
Publicado no Recanto das Letras em 21/06/2011
Código do texto: T3047924

segunda-feira, 20 de junho de 2011

DEALING LIFE

Contemplo a vida
Com a espectativa de quem vai embora
Se não vou-me agora,
Sei que um dia ainda.

Bebo a vida
Com a insubstancial sede de errante em um deserto
O coração incerto
Em crateras ressequidas.

Devoro a vida
Com a fome de quem sabe suportar migalhas,
Mas deseja a fartura do pão
E certeza de apropriação.

Transpiro a vida
Com os suores de minhas labutas
Em ferrenha luta
Pela criação.

Devolvo a vida
Com semente em mim incutida com a certeza de fecundar o chão
Minha matéria entrego à natureza
E minh'alma resolvida volta a ti então...
(Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa, 20/06/2011)
Publicado no Recanto das Letras em 20/06/2011
Código do texto: T3045973

ENTREOLHAR

Eu olho...Tu olhas... Nós olhamos...

Se meus olhos e teus olhos se falam

Os desejos num instante se calam

no fim do adeus.

(Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa,20/06/2011)
Publicado no Recanto das Letras em 20/06/2011
Código do texto: T3045747

MINHA PINTURA

Como o audaz pintor
Diante da tela nua,
Em exímias pinceladas
Deflora a tela sua
Preenche de força e formosura
As fendas e as rupturas
De cor, de peso, de luz, de espessura
Formas, profundidade e texturas...
Meu eu poeta o pinta
Em versos, em loucura
E meio adverso à sua estrutura
Em meu poema soa solto
No poema envolto de sonho e de magia
À finas penas delineio suas curvas
Construo tua imagem, efêmera
E luminosa e fluídica criatura...
Colando em sua pele sagrada escritura
De minha métrica e minha rima turva
Pousando o texto, a minha poesia
Na tela de sua alma a alegoria
A tinta fresca das palavras
Preenche o universo
Na textura de seus sonhos
Crio meus todos os versos
Que o frenético ritmo irradia...
(Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa, 19/06/2011)

Nina Costa
Publicado no Recanto das Letras em 19/06/2011
Código do texto: T3043863

sexta-feira, 17 de junho de 2011

A MORTE DA MORAL

A humanidade lenta caminha
Entre trancos e barrancos propensa
A rasgar a roupa da moral tensa
Deixá-la louca, desnuda, sozinha .

No impulso mórbido, quase incontido
A moral tesa e insana, vai escrever
Nas infindas pregas de seu vestido
As marcas profundas dos desvanecer.

Entre visões de já perdidas eras
A vil humanidade por fim espera
Outras promessas para as novas lidas.

De utopias, sonhos e quimeras
Que encham o vazio de suas vidas
Resurja a moral desvanecida.
(Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa, 17/06/2011)
Publicado no Recanto das Letras em 17/06/2011
Código do texto: T3040890

quinta-feira, 16 de junho de 2011

DEVANEIO

Ah, quem me dera!...
Amar você o tempo inteiro
E descansar de amar em seus braços
Num repouso amigo e sereno e assim
Em um sonho pequeno me enrolar em caracóis
Como uma nuvem nos lindos fios de seus cabelos
Amanhecer em suas entranhas
Desaguando em seus sorrisos de felicidade...

Assoprar meus desejos em seu peito nu, dourado de sol
E atrelada à estrutura de corpo esguio
Me propor ao desafio de lhe fazer vibrar
Sonar de amor, ... canção de amar...

Ah, quem me dera!...
Me aninhar à sua essencia
E misturar nossa existencia de tal forma
Que ninguém identificasse
Que sou eu quem é você...
E nesse bem querer e bem se entregar

Exalar nosso aroma etéreo
Fluir nas partículas de sua via láctea
E resplandecer no brilho desse seu olhar
Sou a menina estrela dos seus olhos
E até enquanto dormir o sono da satisfação
Em você os sonhos de amor sonhar
Bailando nas fibras de seu coração...
(Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa, 16/06/2011)

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A TURMA DO FUNIL – PARTE I

ENTERRANDO TARTARUGA...
Era uma tarde de sol e brisa fresca... Os meninos riam entre si em risos cúmplices, indo e vindo como formigas carpideiras no percurso que separava o quintal de minha casa e o bambuzal no morro ao lado. Nesse ir e vir, volta e meia aparecia um menino na porta da cozinha e dizia à mamãe:
_ Dona Irene, empresta a cavadeira?
E ela, sem perguntar “pra quê”, emprestava a ferramenta.
Pouco depois, outro deles vem e pede, novamente:
_ Dona Irene, empresta a enxada?
Mamãe, mais uma vez empresta e o pirralho some sem explicações.
Assim se repetiu outras tantas vezes e lá se ia cada vez, enxadão, balde, carrinho de mão, picareta,... e mamãe emprestando tudo sem se dar conta de qual o motivo deles precisarem daquilo tudo. E eles trabalhavam e riam entre si lá atrás do bambuzal, entre os pés de café do Sr. Gildo.
Até que em meio aos risos, ouve-se um barulho diferente... Um dos meninos, Marcos, o Tartaruga, chorando um choro abafado e gritando apavorado entre o riso dos demais:
_ Aiiiiiiiii!!!...Socorro! ... Socoooooooooorro!!!... Me tira daquiiiii!!!! Ahhhh... Socorrooooooo!!!
Dona Etelvina, assusta-se ouvindo o pedido de socorro do filho e corre para ver o que estava acontecendo e, eis a grande e inusitada descoberta.
_ Meu Deus! O que vocês fizeram com meu filho? !!!
Qual não foi o susto daquela mãe ao ver o filho ali, enterrado até o pescoço, só com a cabeça fora da terra, vermelho e desesperado.. Nesse momento espirrou moleque pra todo lado, não sobrou um pra contar a história e nem pra desenterrar o Tartaruga. Diante do escândalo de Dona Etelvina, as mães se aglomeraram em volta do menino enterrado, discutindo e esbravejando entre si, cada uma tentando defender seu pestinha e se acusando mutuamente.
Dona Dorinha diz:
_ Agora vou ter que batê no meu filho por causa desses moleque dos infernu...
Mamãe fala:
_ Eu não sabia pra que eles queriam as ferramenta...
Dona Mirtes, por sua vez afirma:
_ Se eu tivesse visto, meu Renatinho não estaria no meio dessa molecada desocupada...
Dona Cici alega:
_ Meus filho num falaro nada... Ai, meu Deus, o Zé num pode sabê disso...
E o coitado do Tartaruga, por sua vez, apenas balbuciava, agora:
_ Socooorro... me tira daquiiiiii! Aiiiii... socooorrr...
Mirinha e minhas irmãs vendo que as mães permaneceriam naquela discussão em defesa de seus pestinhas postos no mundo, começaram a desenterrar o pobre do Tartaruga que já não aguentava mais o peso da terra sobre seu corpo.
E eu olhava de longe aquela cena engraçada e admirava os meninos com uma inveja incontida: “Como eles têm atitude e senso de humor!!!”
(Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa, 15/06/2011)