conversando com irene

domingo, 25 de abril de 2010

Amigos são flores e poemas - Reflexão

quinta-feira, 8 de abril de 2010

DA MINHA ALDEIA - Um pouco de poesia

Da minha aldeia

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo....
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave,
Escondem o horizonte, empurram nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a única riqueza é ver.

Alberto Caeiro, em “O Guardador
de Rebanhos”. Poesias de Fernando Pessoa

segunda-feira, 5 de abril de 2010

LAGOA (Carlos Drummond de Andrade)

Eu não vi o mar.
Não sei se o mar é bonito,
não sei se ele é bravo.
O mar não me importa.
Eu vi a lagoa.
A lagoa, sim.
A lagoa é grande
E calma também.
Na chuva de cores
da tarde que explode
a lagoa brilha
a lagoa se pinta
de todas as cores.
Eu não vi o mar.Eu vi a lagoa...

O HOMEM E A MULHER (Victor Hugo)

"O homem é a mais elevada das criaturas.
A mulher é o mais sublime dos ideais.
Deus fez para o homem um trono;
Para a mulher um altar.

O trono exalta; o altar santifica.
O homem é o cérebro; a mulher o coração, o amor.
A luz fecunda; o amor ressuscita.
O homem é o gênio; a mulher o anjo.

O gênio é imensurável; o anjo indefinível.
A aspiração do homem é a suprema glória;
A aspiração da mulher, a virtude extrema.
A glória traduz grandeza; a virtude traduz divindade.

O homem tem a supremacia; a mulher a preferência.
A supremacia representa força.
A preferência representa o direito.
O homem é forte pela razão; a mulher invencível pelas lágrimas.

A razão convence; a lágrima comove.
O homem é capaz de todos os heroísmos;
A mulher de todos os martírios.
O heroísmo enobrece; os martírios sublima.

O homem é o código; a mulher o evangelho.
O código corrige; o evangelho aperfeiçoa.
O homem é o templo; a mulher, um sacrário.
Ante o templo, nos descobrimos;

Ante o sacrário ajoelhamo-nos.
O homem pensa; a mulher sonha.
Pensar é ter cérebro;
Sonhar é ter na fronte uma auréola.

O homem é um oceano; a mulher um lago.
O oceano tem a pérola que embeleza;
O lago tem a poesia que deslumbra.
O homem é a águia que voa; a mulher o rouxinol que canta.

Voar é dominar o espaço; cantar é conquistar a alma.
O homem tem um fanal; a consciência;
A mulher tem uma estrela: a esperança.
O fanal guia, a esperança salva.

Enfim...
O homem está colocado onde termina a terra;
A mulher onde começa o céu...

EXAUSTO (Adélha Prado)

Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.


(in "Bagagem" São Paulo: Ed.Siciliano, 1993)

O BEIJO (Arcipio Callegário, poeta mimosense que na simplicidade de seus versos, enriquece a poesia capixaba)

Beijo é coisa que não se pede,
Ele por si mesmo sobressai,
É como fruta madura,
Que quando amadurece, cai.

O beijo não se arranca,
É como a banha do torresmo,
Com qualquer calor do corpo,
Se dispende por si mesmo.

Não se deve dar um beijo
Numa pessoa distraída.
Pode ser doce ou amargo,
Uma marca pra toda vida.

O beijo tem um poder,
Que não dá pra explicar,
Para não se arrepender depois,
Pense antes de beijar.

O beijo sela uma aliança,
Mas, não quero dizer com isso,
O beijo também pode trair,
Como traiu Jesus Cristo.

Vai um beijo e outro vem,
Cada um mais saboroso,
Mas o último beijo quase tem
É sempre o mais gostoso.

De qualquer jeito, o beijo é gostoso.
Até mesmo por desejo,
É por isso que a gente nunca esquece
Do seu primeiro beijo.

Amor é fogo que arde sem se ver (Luiz Vaz de Camões)

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

POEMA (Irene Cristina dos Santos Costa)

Fecundei minh'alma de poesia
Repleta dos sonhos afortunados
Pescados no oceano da loucura
Delírios tolos e dos versos a formosura
Captei saudade às avessas, insônia

"Não se força o parto de um poema
Não se perdoa a dor de um poeta"
E assim parindo métrica prematura
Sem anestesia e sem analgésico
A pena é o instrumento do obstetra

Meu poema nasceu frágil e raquítico
E num suspiro retirou-se gesto e aceno
perdeu-se na mémoria , morreu efêmero
meu filho jaz no vazio do esquecimento

Quem sabe um dia ecoando no infinito
Minha voz num grito encontre o filho errante
E eu poeta madre novamente
Possa parir você forte e bonito

05/04/2010

Ou isto ou aquilo (Cecília Meireles)

Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

BILHETE (Mário Quintana)

Se tu me amas,
ama-me baixinho.

Não o grites de cima dos telhados,
deixa em paz os passarinhos.

Deixa em paz a mim!

Se me queres,
enfim,

tem de ser bem devagarinho,
amada,

que a vida é breve,
e o amor
mais breve ainda.

RECORDO AINDA (Mário Quintana)

Recordo ainda... e nada mais me importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...

Estrada afora após segui... Mas, aí,
Embora idade e senso eu aparente
Não vos iludais o velho que aqui vai:

Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai!...
Que envelheceu, um dia, de repente

VERSOS ÍNTIMOS ( Augusto dos Anjos)

Vês ! Ninguém assistiu ao formidável enterro de tua última quimera.
Somente a ingratidão - essa pantera - foi tua companheira inseparável.
Acostuma-te à lama que te espera .
O homem que nesta terra miserável mora entre feras,
Sente inevitável necessidade de também ser fera .
Toma um fósforo. Acende teu cigarro.
O beijo, amigo, é a véspera do escarro!
A mão que te afaga é a mesma que te apedreja.
Por isso, se alguém ainda causa pena à tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
E escarra na boca que te beija !

NOITE ( Menotti Del Picchia)

As casas fecham as pálpebras das janelas e dormem.

Todos os rumores são postos em surdina,

todas as luzes se apagam.

Há um grande aparato de câmara funerária

na paisagem do mundo.

Os homens ficam rígidos,

tomam a posição horizontal

e ensaiam o próprio cadáver.

Cada leito é a “maquette” de um túmulo,

cada sono um ensaio de morte.



No cemitério da treva

tudo morre provisoriamente.



(Poesias, p. 75)

Os Teus Pés (Pablo Neruda)

Quando não te posso contemplar
Contemplo os teus pés.
Teus pés de osso arqueado,
Teus pequenos pés duros,
Eu sei que te sustentam
E que teu doce peso
Sobre eles se ergue.
Tua cintura e teus seios,
A duplicada purpura
Dos teus mamilos,
A caixa dos teus olhos
Que há pouco levantaram vôo,
A larga boca de fruta,
Tua rubra cabeleira,
Pequena torre minha.
Mas se amo os teus pés
É só porque andaram
Sobre a terra e sobre
O vento e sobre a água,
Até me encontrarem.

Ser Poeta (Florbela Espanca)

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

LEMBRANÇAS (de Irene Cristina dos Santos Costa)

Hoje fazia um dia lindo quando lhe encontei
no baú de minhas lembranças antiga
Revi seu rosto na fotografia apagada
Abracei seu corpo no vestido roto e empoeirado
Senti seu perfume no lenço com suas iniciais bordado
Acariciei suas delicadas mãos dentro das pequenas luvas vazias
Possui você como da primeira vez...

Ah! meu amor!
Como é fácil ter você todos os dias!
Basta fechar os olhos
e deixar o coração voar até o infinito...

Irene no Céu (Manuel Bandeira)

Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.

Imagino Irene entrando no céu:
- Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
- Entra, Irene.
Você não precisa pedir licença.

AVISO DA LUA QUE MENSTRUA (de Elisa Lucinda, poetisa capixaba que sabe como ninguém versar a alma feminina)

Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
às vezes parece erva, parece hera
cuidado com essa gente que gera
essa gente que se metamorfoseia
metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
mas é outro lugar, aí é que está:
cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita..
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
transforma fato em elemento
a tudo refoga, ferve, frita
ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
é que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga
é que tô falando na "vera"
conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
ou sem os devidos cortejos..
Às vezes pela ponte de um beijo
já se alcança a "cidade secreta"
a Atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
cai na condição de ser displicente
diante da própria serpente
Ela é uma cobra de avental
Não despreze a meditação doméstica
É da poeira do cotidiano
que a mulher extrai filosofando
cozinhando, costurando e você chega com a mão no bolso
julgando a arte do almoço: Eca!...
Você que não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado
tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
então esquece de morder devagar
esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir
chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
VACA é sua mãe. De leite.
Vaca e galinha...
ora, não ofende. Enaltece, elogia:
comparando rainha com rainha
óvulo, ovo e leite
pensando que está agredindo
que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o princípio do mundo!

sábado, 3 de abril de 2010

A ECONOMIA DE MIMOSO DO SUL ( por Irene Cristina)

Mimoso do Sul-ES é um município com características especificamente agrárias, voltado, principalmente para a cultura do café, e em um segundo plano para a produção de outros grãos como milho, feijão. Sua produção cafeeira representa a maior parcela de sua economia e é uma significativa participação na economia do estado, com seu pontencial na produção de café conilon e arábica no distrito de Conceição do Muqui (maior distrito do município e conhecido como terra fria, onde se encontra o pico do Alto Pontões, ponto turístico apropriado à passeios ecológicos); e ainda apresenta um forte potencial para a agropecuária de corte e leiteira.
Muitos fazendeiros, atualmente, tem abandonado as lavouras cafeeiras e se dedicado à criação de gado bovino porque dispensa a presença de muitos trabalhadores e, consequentemente, o homem do campo, por sua vez, tem migrado para a sede ou para outras cidades ou estados em busca de melhores condições de vida.
As indústrias da sede são as de serragem e beneficiamento de mármore e granito. A produção é basicamente voltada para o mercado externo: como Mercosul, Itália, Alemanha, Indonésia e Japão no mercado mundial; e relações comercias internas com Minas Gerais, São Paulo, Distrito Federal e Nordeste.
O solo é rico em mármore, granito, destaca-se dentro do município nessa produção o distrito de São José das Torres, e ainda sobra lugar para águas marinhas (pedra preciosa), bauxita.
Em boa parte do município, principalmente na região de São José das Torres, além do mármore e granito, destaca-se também a produção de banana, onde se realiza o artesanato com seus substratos (folhas, tronco, casca). No período das festividades da Semana Santa, pode-se destacar a encenação do Auto da Paixão de Cristo, uma atuação tradicional realizada pelo grupo de teatro Faz’art com pessoas da comunidade, o que atrai muitos turistas e movimenta a economia local.
Em São Pedro do Itabapoana, Sítio Histórico de Mimoso do Sul, apesar de produzir também café, e ter algumas fazendas de gado para corte e para leite, tem seu potencial econômico no turismo, com seu auge no período de inverno, com o festival de inverno de “Sanfona e Viola” e ainda o artesanato das “Divas”. Tem todo um casario antigo e uma estrutura que preserva um ar de século passado e encanta a todos quanto lá passam. Porém, os jovens, em sua maioria, deslocam-se para a cidade ou para outros estados em busca de ofertas de trabalho.
Até 2010 o governo do estado estará investindo em m recursos para Mimoso do Sul. Alguns dos investimentos feitos já implantados pelo governo federal são: Posto da Polícia Rodoviária Federal será o maior posto de fiscalização da América Latina; Usina hidrelétrica em Ponte do Itabapoana.
A construção desta usina em Ponte do Itabapoana reprresenta a produção de energia elétrica para o abastecimento de Mimoso e de Apiacá, porem a comunidade local desde então já tem sido atingida pelos efeitos dessa grandiosa obra com as constantes inundações. Com suas perdas, sem contar que ficará submersa a região e com ela a história local.
Na região de Palmeiras (região alta, próxima à sede, altamente organizada) realiza-se a agricultura familiar e a produção de frutas e verduras orgânicas, com industrialização e comercialização pelos próprios moradores, em caráter de cooperativa. Essa comunidade representa, dentro do município a possibilidade de desenvolvimento sustentável movido pela organização e boa vontade. Tem internet, telefone celular comunitário comprados pela associação e mantidas pelos membros. Muitos dos equipamentos para benfeitorias de seus produtos resultam da coleta seletiva do lixo recolhido na comunidade e vendido para fora do município, o que é revertido em forma de recursos para todos. O aproveitamento da água é sustentável e não usam pesticidas ou agrotóxicos, utilizam adubo verde em suas lavouras e procuram estar em equilíbrio com a natureza. Possuem biblioteca pública organizada pela comunidade.
O comércio se destaca com produtos da terra, alguns feito artesanalmente, como por exemplo, a goiabada cascão, rapadura, doces caseiros, queijo verde; e o grande Camarão da Malásia produzido em os vários açudes de criadouros existentes no município.
Apesar de tudo isto, a maior fonte de emprego continua sendo a prefeitura e os órgão públicos, infelizmente usados, muitas vezes com finalidades políticas escusas ainda na atualidade, revelada no paternalismo público.
Mimoso do Sul tem um forte potencial para o turismo ecológico e com fazendas lindas antigas e com uma carga histórica incrível que poderiam ser melhor aproveitadas; tem uma riqueza e uma diversidade cultural e ambiental (topográfica e hidrográfica) sem igual que poderia movimentar a economia sem agredí-la. Não posso deixar de exaltar a comunidade de Palmeiras quando expresso minha opinião, porque todo o município precisa aprender com ela a viver a sustentabilidade e o respeito ao meio ambiente de fato.