TEXTO 1: Charge
TEXTO 2: Piada
O pai, ao ver o boletim do filho, comenta contrafeito:
__ Na minha época isso era resolvido com uma surra.
__ Legal pai! Vamos pegar o professor na saída amanhã?
TEXTO 3: Entrevista
Do mundo virtual à realidade escolar
por Ricardo Prado
Para o educador espanhol Antonio de Las Heras, as tecnologias da informação e da comunicação chegam às escolas “de fora para dentro”
Todo processo de inovação, algo necessariamente complexo, pode ser mais bem compreendido e explicado por meio de uma sugestiva metáfora extraída do mundo físico. Ao falar do que seria inovar dentro do ambiente escolar em uma das conferências do V Congresso Educared, realizado em novembro na Espanha, o professor Antonio de Las Heras, diretor do Instituto de Cultura e Tecnologia da Universidade Carlos III de Madri, resumiu esse processo em quatro fases: evaporação, condensação, precipitação e aplicação.
A primeira etapa, evaporação, indicaria aquele momento em que as ideias estão sendo formadas em diferentes cérebros, ainda de modos tão sutis e impalpáveis como os vapores que formarão as nuvens. Quando várias ideias se enlaçam em torno de alguma maior, gerando um fluxo de conhecimento, estamos na segunda fase da inovação, a condensação. Para esta etapa, afirma Antonio de Las Heras, o espaço virtual das tecnologias da informação e da comunicação (TIC) mostra-se um ótimo condutor de ideias condensadas, prestes a se precipitar. Se essa precipitação acontece, ou seja, se o fluxo de ideias é capaz de gerar ou aperfeiçoar um novo produto ou processo, entramos na terceira fase da inovação na escola, um lugar especialmente fértil para transformar vapores sutis em nuvens, e estas em chuva. Por fim, é preciso que essa precipitação, como a água represada em um canal, seja direcionada, para que a força gerada seja transformada em algo útil e inovador, como a água que se precipita entre as pás do moinho, gerando movimento. Esta é a derradeira fase da inovação, a da aplicação.
Antonio de Las Heras partiu desta metáfora para exemplificar como a internet inaugura novas possibilidades de invenção e renovação nos processos de ensino-aprendizagem. Ao término de sua conferência, concedeu entrevista a Ricardo Prado, na qual aprofundou algumas de suas observações sobre o uso das TIC na escola.
Carta na Escola: Por que as TIC ainda não fazem parte da formação inicial dos professores, seja no Brasil, seja na Espanha?
Antonio de Las Heras: Eu creio que o fenômeno atual das TIC incorporadas ao processo de educação tenha acontecido “de fora para dentro”, ou seja, seguiu por outros caminhos educativos que não os tradicionais do sistema escolar. Na verdade, as TIC foram impregnando a sociedade e, sem dúvida, os núcleos mais estruturados, até mais rígidos, como podem ser os sistemas educativos de formação dos professores, se revelaram menos porosos a essas influências, já fortemente presentes na sociedade moderna. Sem dúvida, nesse processo de apropriação das novas tecnologias por parte dos núcleos formadores de professores, acontecem algumas contradições importantes e, como você mesmo assinalou em sua pergunta, essas tecnologias ainda não se encontram incorporadas ao processo de formação inicial dos professores. É preciso estar atento para que não se reproduza aqui um desajuste entre o conhecimento que os alunos já possuem das TIC e o que os professores recebem em sua formação inicial, já que esse fenômeno vem se produzindo por porosidade, por derrame, desde a década de 1980, e não por uma iniciativa feita pelo próprio sistema, de cima para baixo. É por isso que a incorporação se dá dessa maneira bem mais trabalhosa.
CE: Às vezes a introdução da internet em sala de aula pode gerar um efeito perverso, apontado pelo sociólogo Manuel Castels na conferência de encerramento: o aumento da disparidade entre os melhores e os piores alunos. Como enfrentar esse risco?
AH: Por isso é importante interpretar a entrada das novas tecnologias da informação e da comunicação em sala de aula de forma especular. As TIC cumprem, seja em uma escola, seja em uma empresa, uma função especular: elas refletem, de maneira mais ou menos deformada, mas sempre amplificada, a realidade daquela empresa ou daquela escola. Se esse ambiente tem um desequilíbrio, uma desigualdade de qualquer espécie, essa imagem especular na qual a internet se mostra evidenciará isso. Portanto, é normal que, ao ser introduzida no ambiente escolar, a internet em um primeiro momento intensifique esse desequilíbrio. Mas, observe: quando nos colocamos diante de um espelho, nós próprios tentamos mudar a imagem que encontramos ali. Ninguém fica impassível diante de um espelho, ele sempre nos incentiva a mudar nossa própria imagem. Tentamos mudá-la, para adequar essa imagem àquela que temos como ideal. Portanto, é normal que a desigualdade entre os alunos de uma escola seja evidenciada pela internet; e, também, o que se espera é que, como toda imagem especular, ela nos incite a tentar suavizar essas diferenças, que sempre existirão.
CE: Quando a internet é introduzida no ambiente escolar, não se corre o risco de criarmos uma geração muito desatenta e dispersiva ou essa dispersão é inerente à entrada das TICs?
AH: O sistema educativo terá de criar novas formas para enfrentar esse desafio, que eu comparo com um migrante da zona rural que chega à grande cidade. As capacidades e as possibilidades que ele vislumbra ao chegar neste novo ambiente são imensas, mas o primeiro efeito que se produz nele é uma sensação de deslumbramento diante do cenário. É inevitável que ele se perca neste novo ambiente várias vezes, até criar o seu próprio roteiro, o seu mapa. Com o tempo, saberá que é preciso evitar determinados bairros, é preciso fazer este ou aquele caminho para atingir alguma meta, isso se vai adquirindo. Algo parecido acontece com a internet, que é como uma grande cidade e, neste caso, não há nativos ou migrantes: todos procedemos como esse migrante rural em um ambiente urbano. Todos tivemos algum tipo de medo, de desorientação, de desajuste ou de deslumbramento diante das imensas possibilidades dessa “nova cidade”. Mas penso que este é um processo normal nessa etapa de apropriação tecnológica ainda recente.
CE: As TIC também podem mudar a forma como se avaliam os alunos?
AH: Ela não apenas pode, mas deve mudar o formato da avaliação na escola. Porque se se mantém o mesmo sistema de avaliação que havia antes da introdução das TIC no ambiente escolar, estamos diante de uma contradição inaceitável. É preciso caminhar, progressivamente, rumo a uma forma de avaliação mais contínua e mais colaborativa. Isso deve acontecer na medida em que os professores introduzam outros elementos avaliativos mais relacionados a essas tecnologias, que guardam pouca semelhança com o formato da aula tradicional. Com isso, surgirá uma série de valores e de indicadores de avaliação, alguns colaborativos, e os alunos devem ter um seguimento de seus estudos que torne a avaliação uma parte essencial deles. Não me passa pela cabeça imaginar que, ao fim de um período letivo no qual se usaram intensamente recursos tecnológicos na aprendizagem, um professor pense em dar uma prova escrita tradicional, com perguntas e respostas. Seria um desperdício.
CE: No Brasil, uma pesquisa recente, feita pela Fundação Getulio Vargas, apontou como principal motivo da evasão escolar no ensino médio a falta de interesse pela escola. Na Espanha, a evasão na mesma faixa etária também é elevada. As TIC podem criar um atrativo para esse tipo de aluno reticente?
AH: Penso que sim, se entendermos as tecnologias da informação e da comunicação em toda a sua amplitude. Ou seja, é uma mediação tecnológica que em si mesma atrai os jovens, que inclusive possuem destreza e interesse em utilizá-la. Mas é preciso haver, por parte dos professores, uma concepção completamente distinta dos conteúdos e da forma como devemos trabalhar com eles. É preciso, antes de tudo, superar esse desafio pedagógico, de comunicação didática. É preciso compreender que esses conteúdos, dispostos na tela, não podem ser os mesmos que um livro e uma lousa podem conter, nem podem ser transmitidos da mesma maneira. Se há, portanto, um projeto pedagógico adequado por trás do uso das TIC no ambiente escolar, seu uso pode, sim, ser um fator de atração. Se não houver isso, será um atrativo muito superficial e não deve alterar esse quadro de evasão, já que o que é atraente hoje pode não ser mais amanhã. É preciso que a aula e o próprio sistema educativo estejam de acordo com o mundo em que vivemos. E esse não é um desafio apenas para os países mais desenvolvidos, que possuem uma infraestrutura de TIC mais desenvolvida. Seria aprofundar a diferença que já existe. Vale assinalar, também, que este é um desafio igual para todos os países, a despeito de seus desequilíbrios e carências tecnológicas.
CE: Há algum país que sirva de exemplo em relação ao uso das TIC na educação?
AH: Sempre recorremos aos países nórdicos como modelos, porque são os que melhor souberam integrar todos os fatores para que o uso de computadores esteja de fato integrado às escolas, e os resultados internacionais mostram isso. Aliás, prefiro falar nas TIC como fazendo parte de um processo de intervenção pedagógica que também leva em consideração outros fatores importantes na educação, como a infraestrutura material nas escolas e, tão importante quanto, a valorização social do professor. Apenas a instalação da infraestrutura não é garantia de presença das TIC no processo de ensino-aprendizagem, como vimos acontecer em algumas unidades autônomas aqui na Espanha, com resultados bastante desiguais. Ficou claro, por exemplo, que não adianta apenas prover classes, alunos e professores com laptops sem que o corpo docente tenha sido previamente preparado para trabalhar com eles, e sem que houvesse à disposição material especialmente preparado para esse fim.
TEXTO 4: Música
Pela Internet
Gilberto Gil
Composição: Gilberto Gil
Criar meu web site
Fazer minha home-page
Com quantos gigabytes
Se faz uma jangada
Um barco que veleja ...(2x)
Que veleje nesse informar
Que aproveite a vazante da infomaré
Que leve um oriki do meu orixá
Ao porto de um disquete de um micro em Taipé
Um barco que veleje nesse infomar
Que aproveite a vazante da infomaré
Que leve meu e-mail até Calcutá
Depois de um hot-link
Num site de Helsinque
Para abastecer
Eu quero entrar na rede
Promover um debate
Juntar via Internet
Um grupo de tietes de Connecticut
De Connecticut de acessar
O chefe da Mac Milícia de Milão
Um hacker mafioso acaba de soltar
Um vírus para atacar os programas no Japão
Eu quero entrar na rede para contatar
Os lares do Nepal,os bares do Gabão
Que o chefe da polícia carioca avisa pelo celular
Que lá na praça Onze tem um videopôquer para se jogar...
TEXTO 5: QUE NOTAS SÃO ESTAS?
(Reflexão por Irene Cristina dos Santos Costa)
Na charge, o autor faz um paralelo entre o foco da educação do passado e da atualidade. No passado, a educação tradicional era focalizada no Professor, este, detentor de todo o saber, era o responsável por passar este saber ao aluno, que deveria absorver tudo como se fosse um jarro vazio a ser cheio sem questionar acerca do líquido (ou da substância, da matéria) que seria derramado dentro dele e, indelevelmente seu fracasso resultaria de sua incapacidade de aprender. Portanto todo o peso desse fracasso escolar e mesmo evasão recairia sobre ele. A indagação “Que notas são estas?”, apresentada na charge, era direcionada ao aluno uma vez que era sua a obrigação de se sair bem no ano letivo.
Na atualidade, na educação moderna, o foco volta-se para o aluno, que deixa de ser objeto da educação para ser senhor de sua própria aprendizagem. O professor por sua vez, vê-se desacreditado e desrespeitado, a figura do mestre deu lugar ao “fessô”. E sua autoridade não existe mais. Em muitos casos até, torna-se risco de morte determinadas atitudes que se tomam na escola com a pretensa intenção de “corrigir” alguma falha de alunos, uma vez que professores são agredidos nas escolas,__há poucos dias atrás, foi veiculado na mídia oficial que uma diretora tirou licença médica porque estava abalada psicologicamente porque um aluno à espancou na saída da escola __ essa é a realidade atual. O professor/educador tem a obrigação de fazer de tudo para aprovar o aluno, e a indagação “Que notas são estas?” hoje, recaem sobre o responsável pelo sucesso do aluno: o professor/educador. Se o aluno falha é porque o professor não sabe dar aulas e avaliar, e a turma é terrível e indisciplinada é o professor que não tem domínio de turma, enfim, sempre se procura um culpado, mas nunca se chega a uma solução.
Essa inversão total de valores polarizada em dois extremos é muito bem refletida na crítica disfarçada de humor vista na piada, quando há confusão entre a fala do pai e o entendimento do filho. E mais, revela de modo engraçado a marginalização e o total desrespeito a que chegou a classe docente.
Na entrevista ao educador espanhol Antonio de Las Heras, em que ele expressa sua opinião alegando que a criança não tem interesse pela escola e por isso não aprende, e as tecnologias devem fazer parte da realidade escolar, com as escolas reestruturando-se para assumir e utilizar em sua prática diária as novas tecnologias no ambiente escolar. A defesa da digitalização das escolar é uma proposta muito boa e o educador até cita as estruturas das escolas nórdicas como exemplos a serem seguidos.
De fato, nossos alunos querem navegar na rede e estar interligado no mundo todo através da internet é algo extraordinário, porém é muito fácil citar os países nórdicos como exemplo, com sua infra-estrutura perfeita, quando temos em nossa realidade escolinhas perdidas no interior da zona rural, onde professor e alunos têm que andar à pé para chegar, enfrentar poeira em dias de seca e barro em dias chuvosos, onde não têm sequer água e esgoto direito, muitas vezes nem carteiras e cadeiras suficientes para os alunos se sentarem, onde professor e alunos adentram temerosos que o teto lhes caia na cabeça. Tecnologias são supérfluas perto das necessidades gritantes que estes tem que enfrentar diariamente, e o professor ainda tem que aprovar todos, porque tem que apresentar índices positivos ao governo, senão não recebe “bônus de produtividade” (incentivo?).
Ou em outro extremo, a dura e arriscada aventura dos professores que atendem uma clientela que convive com a violência e o crime diariamente e portanto, não têm problema algum em refletir isso na sala de aula e/ou contra seu educador.
É interessante trazer as novas tecnologias para a realidade escolar, mas antes, deve-se proporcionar à escola condições de atender as necessidades primeiras dos educandos e do professorado. Seja em termos de prédio, mobiliário, material didático, mobiliário, recursos materiais, assistência psicológica, segurança. E dessa forma, quando houver de fato condições de se educar/formar cidadãos dentro da sala de aula, navegar na rede será um fator a se somar ao contexto do processo ensino/aprendizagem e verdadeiramente funcionará. Não adianta propôr as novas tecnologias pra dizer que nossa educação é digitalizada, se tentar solucionar os problemas gritantes das escolas de periferia, de interior, das escolas de populações ribeirinhas com uma infra-estrtura que não condiz com a proposta de informatização. Só assim home-page, website, internet, gigabytes, etc., deixarão de ser verbetes de um idioma desconhecido de muitos e será de fato algo de domínio de todos, ainda mais, será um objeto útil e valioso para a aprendizagem e avaliação dos alunos, desde que os professores recebam capacitação para utilizá-lo. Porque quem não quer navegar na rede?
Pelo menos um saldo positivo, quando os pais quiserem questionar as notas de seus filhos, poderão fazer a indagação ”Que notas são essas?” via email, e o único risco que o "fessô" irá correr é de um pai ou mãe enfurecido, mandar um víros letal que destrua a memória de seu HD...
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