
Em 1957, no filme, esta personagem é Eve White, que ao ser levada pelo esposo ao psiquiatra, tem o diagnóstico de trazer dentro de si a existência de outros álteres (outras duas personalidades distintas, Eve Black e Jane). Trata-se, de um distúrbio pouco conhecido na época, chamado Distúrbio de Personalidade Múltipla, hoje conhecido como DDI – Distúrbio de Dissociação de Identidade.
Depois desse rápido mergulho histórico que Titio Google me proporcionou como alicerce às minhas lembranças, volto às implicações adjacentes que a narrativa me permite.
Embora o filme enfoque o caso de um distúrbio mental, eu, fazendo um gancho na realidade estressante que a vida moderna tem nos imposto, obrigando-nos a assumir papéis diferentes e diversos (de mãe de seus rebentos que precisam de sua plena atenção, esposa/dona de casa dedicada do marido que não abre mão de seus zelos domésticos; da profissional competente que não pode errar, pois se erra é porque é mulher; da esposa/amante, que tem que estar bonita, sexi, perfumada e bem disposta, porque se assim não for, o marido vai buscar outra que a substitua;...).
Ser mulher é portanto, nos multiplicar em várias e nos esforçar para ser total em cada uma delas, porque os filhos, o patrão, o esposo/amante, nós mesmas nos queremos por inteiras e a disputa das “Evas” existente dentro de nós é desgastante. E, querendo ou não, na realidade, uma sempre vai deixar a desejar e as cobranças da sociedade, da família, de nós mesmas são uma inevitável conseqüência.

Vendo o homem só e infeliz, Deus se compadeceu e voltou a criar, mas não do pó, agora da costela de Adão, para que ela nunca viesse querer ficar acima dele, como Lílith tentou, e nem tampouco ele viesse a tentar colocá-la abaixo de si... e deu-lhe o nome de Eva... e esta ser-lhe-ia por auxiliadora.
Auxiliadora, sim, “A U X I L I A D O R A” ... Quem auxilia não decide, ajuda a decidir; não manda, não faz, compartilha da ação. Pois bem, Eva auxiliou a decisão de Adão em comer o fruto proibido e pagou com a sentença de parir as dores do mundo, e carregar a culpa do pecado original... eis aí o início do dilema da mulher...
Não creio que Deus tenha errado na criação da mulher, e por isso teve que fazer de novo, mas a Lílith do pensamento pagão é uma outra face da Eva que existe em cada uma de nós, a que desejou, ambicionou o fruto proibido e foi sagaz, ousada em convencer o fraco e omisso Adão em segui-la neste feito. A Eva edênica, criada por Deus (auxiliadora) é o equilíbrio, o ego personificado; a Lilith (outra face de Eva) é nosso id, que traz todas as nossas punções ao “pecado”, a carga da libido que nos faz querer ser além do que devemos ser, do que é permitido ser, que nos impulsiona consciente ou não a realizar nossos mais terríveis desejos.

Agora eu pergunto: você é normal? Quantas Evas há dentro de você, mulher?...
(Irene Cristina dos Santos Costa – Nina Costa, 07/07/2011)
Nina Costa
Publicado no Recanto das Letras em 07/07/2011
Código do texto: T3080335
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