Caro amigo Freud,
Quem lhe disse que tenho mecanismos de defesa? Que meu ego se resguarda e que tem medo?
Ando indefesa e sem nexo, com mecanismos velhos e falhos. Ainda que o sexo seja pungente sobre minha libido, não é em volta de meu umbigo que circula o mundo, nem meus conflitos de criança são de todo assim oblíquos.
Portanto, não venha me dizer que sou egocêntrica, minha essência de Electra jaz adormecida no oceano remoto do subconsciente. Já aprendi a camuflar minha inconstância na retórica de meu discurso, e a desviar minhas punções em versos e poesias, ... pouco me importando se quem leia me entenda bem... Amigo Freud, não escrevo para que me entendam, mas para extravasar, e às vezes meus versos cortam e ferem feito punhal; ardem na ferida feito sal,... mas também em outras circunstancias, eles podem até emocionar e cativar alguém.
Acontece é que guardei alguns de meus monstros antigos e sagrados embaixo da cama, e à noite, eles vêm perturbar meu sono e, nesse desassossego, é impossível dormir e sonhar, sonhar aqueles sonhos fantásticos que satisfazem o id cheio de perversões e fantasias,... a insônia tem sido, assim, minha constante companhia.
Tome mão de seu bloquinho de anotações, avalie meu caso e veja se estou certa, ainda que nas horas mais incertas, o superego tente afugentar minha sanidade em favor do senso coletivo, estou precisando me equilibrar, não quero comprimidos para ansiedade, não quero fazer Yoga pra me harmonizar. Preciso urgentemente rever meus complexos, resolver meus conflitos nesse seu divã, mas se não for o caso, deixe-me apenas dormir um pouco nele até amanhã...
Freud, explica? Não,... complica!!!
(Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa, 04/07/2011)
Publicado no Recanto das Letras em 04/07/2011
Código do texto: T3073933
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